


E-book | EF1: 78 pg | EF2: 78 pg| EM: 80 pág. | R$ 40,00 | Receba pelo e-mail.
Três excelentes e-books pelo preço de dois. Os roteiros são divididos por níveis de ensino, mas todos podem ser aplicados em sala ou em outros espaços para qualquer faixa etária. Da cantiga de roda e do cordel ao trabalho lúdico com poesia gráfica e visual, a coleção é um banho delicioso de práticas, que podem ser expandidas para além da sala de aula.
VEJA UM DOS 36 ROTEIROS:
QUEM NÃO COLA NÃO SAI DA ESCOLA
Toda cultura humana está cheia de mitos. A Grécia Clássica não vivia sem mitos, Roma que a sucedeu a copiou e ampliou o panteão de mitos. O tempo cuidou do resto, difundindo para o Ocidente e para os nossos dias essa forma de ver o mundo e de transmitir conhecimento.
O Oriente não fica por menos: Japão, Índia, China entre outros, e, mais perto de nós, no tempo e no espaço Pérsia, Arábia etc. etc. etc.
Espanha, Portugal Turquia? Rússia? África? Índios americanos? Polinésio? Nenhum viveu, vive e viverá sem mitos. Não adianta lutar contra eles, que se já eram portentosos na antiguidade, só ganharam mais força e descendentes com o intercâmbio crescente entre os povos.
A cultura humana é uma fábrica de mitos: no teatro, Molière não é um mito? na música clássica, o que é hoje o regente da orquestra? No cinema, o que é Greta Garbo ou Chaplin?
A escola não fica de fora dessa cultura de mitos, contribuindo talvez com o mais popular deles entre crianças e adolescentes: a cola.
Sim, a cola é, antes de tudo um mito. Que seria a escola sem ela? Sequer a palavra sobreviveria. Quer ver? Apague a palavra “cola” da palavra “escola”. O que resta? Meu caro professor, dói no coração, mas o dia em que a cola desaparecer, a escola vai ter que mudar de nome, os dicionários etimológicos vão embatucar e os congressos de filologia conhecerão o verdadeiro caos.
A cola e a escola foram feitas uma para a outra – e o mito imortal entre as duas é a primeira. E, uma vez que um mito não cessa de viver nunca, o mais recomendável é explorar seus aspectos positivos – pois eles existem –, e procurar isolar suas manifestações deletérias com olhos de águia durante as provas e exames escolares.
Este segundo roteiro de trabalho com a poesia encara o mito frente a frente. Para tanto convoca um mito: a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, e dois demolidores de mitos: os poetas Oswald de Andrade e Cacaso.
Uma turma de séries finais do Ensino Fundamental.
Papel, lápis e borracha.
Cópias do poema “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias.
Cópias do poema “Canto de regresso à pátria”, de Oswald de Andrade.
Cópias do poema “Jogos Florais”, de Cacaso.
Obs.: Os textos devem ser pesquisados em livros ou em sites autorizados e confiáveis da internet.
Distribuir cópias da “Canção do Exílio” aos alunos.
Solicitar que, em grupo, ensaiem leituras orais do poema.
Solicitar que alguns voluntários realizem leitura para toda a turma.
Orientar essas leituras orais voluntárias, interrompendo o aluno e dando dicas de como conquistar maior alcance de voz, melhor efeito de locução, mais sentimento na expressão – sempre alertado para que se evite a pieguice ou a leitura afetada, estilo “batatinha quando nasce…”
Solicitar que a turma escreva pequenos poemas sobre o tema “saudade” de um lugar, sempre incorporando ou parafraseando trechos da “Canção do Exílio”.
Solicitar que os colegas troquem entre si os textos produzidos.
Solicitar que cada um, em outra folha de papel, escreva um novo texto a partir do texto do colega, desta vez, porém buscando o efeito humorístico, de forma a produzir uma paródia. Alertar que não vale empregar termos chulos ou que humilhem quem quer que seja.
Realizam-se leituras para toda a classe dos textos produzidos e das respectivas paródias.
Após isso distribuir para metade da turma o poema de Oswald de Andrade e para outra metade o poema de Cacaso.
Cada aluno lê os poemas e os compara com suas produções.
Organiza-se um grande círculo na sala com as carteiras.
No interior desse círculo, alunos se revezam na leitura dos poemas e dos textos por eles produzidos.
O professor deve aproveitar essa grande roda final para ensaiar leituras orais com os alunos. Essas leituras podem explorar recursos de voz e de expressão extraídos ao teatro, de forma a criar um ambiente de desinibição do aluno em face da turma, ambiente que deve prevalecer sempre que a literatura em geral e a poesia em particular forem objetos das atividades.
O poema de Oswald de Andrade implica em uma certa ironia para com a fonte de que partiu, pois fala de seus sentimento acerca uma cidade moderna, ao passo que o poema de Gonçalves Dias elogia um país rural, e mesmo florestal, com sua natureza exuberante.
Já o poema de Cacaso faz uma alusão esperta e mesmo sarcástica à censura que imperou no Brasil durante a ditadura militar. A menção a Palmares, quilombo que resistiu ao domínio português, como insinua resistência à ditadura (“cala-te boca”, diz o poeta).
Como tratar com pré-adolescentes esses assuntos (natureza versus progresso, liberdade versus opressão) é uma arte que fica ao encargo do professor, junto com a ponderação de que não há assunto espinhoso que não possa ser tratado na escola. Pesquisa, orientação e debate são recursos preciosos para isso.
Além de Oswald de Andrade e de Cacaso, muitos outros poetas fizeram referência ao poema de Gonçalves Dias, dentre eles Casimiro de Abreu e Murilo Mendes, com o mesmo título (Canção do Exílio), Carlos Drummond de Andrade (Nova Canção do Exílio) Mário Quintana (Uma canção) entre outros. Nem o Hino Nacional Brasileiro, composto por Joaquim Osório Duque Estrada, escapou, ao citar os versos: “Nossos bosques têm mais vida / Nossa vida no teu seio mais amores”.
Como vemos, não são poucos os poetas que, mais ou menos famosos, colando de Gonçalves Dias, fizeram escola, reforçando o mito.
Como vemos, nem toda cola merece zero de nota.
Jeosafá Fernandez Gonçalves é Doutor em Letras pela USP E pesquisador Colaborador do Departamento de História da mesma Universidade. Escritor e professor, lecionou para a Educação Básica e para o Ensino Superior privados. Foi da equipe do 1o. ENEM, em 1998, e membro da banca de redação desse Exame em anos posteriores. Compôs também bancas de correção das redações da FUVEST nas décadas de 1990 e 2000. Foi consultor da Fundação Carlos Vanzolini da USP, na área de Currículo e nos programas Apoio ao Saber e Leituras do Professor da Secretaria de Educação de São Paulo. Autor de mais de 50 títulos por diversas editoras, entre os quais O jovem Mandela (Editora Nova Alexandria); O jovem Malcolm X, A lenda do belo Pecopin e da bela Bauldour, tradução do francês e adaptação para HQ do clássico de Victor Hugo (Mercuryo Jovem).